Entrevista com Jimmy Jam, produtor do álbum HIStory

A carreira de Jimmy Jam como produtor, músico e compositor começou no início dos anos 80 com a banda The Time. Após a sua saída da banda, Jimmy Jam e Terry Lewis formaram a Flyte Tyme Productions. Juntos, a dupla produziu hit após hit, principalmente para Janet Jackson, e outros artistas como Usher, Mariah Carey, George Michael, Boyz II Men, e muitos outros. Michael Jackson trabalhou com Jimmy Jam na produção de seu álbum HIStory em 1985. Neste trecho da entrevista, Jimmy Jam relembra seu trabalho e o relacionamento com o homem "mais gentil" que conheceu.


Entrevista com Jimmy Jam, produtor do álbum HIStory

Por Chaz Lipp, em 19 de abril de 2012

Pesquisado por Pat_Marcel. Traduzido por Femme, exclusivamente para o MJ Dreamer. Proibida a reprodução.





Falando de Michael Jackson, o que você pode compartilhar sobre o trabalho com ele em HIStory (1995)?

Michael foi incrível. Eu não consigo pensar em um momento estúdio que nos surpreendeu mais do que a primeira vez que ele ficou na frente de um microfone em "Scream". Foi muito engraçado. Primeiro de tudo, quando arranjamos essa faixa, eu tinha Janet vindo para Minneapolis. Eu apenas disse: "Eu preciso que você esteja aqui para a inspiração." Então, Terry e eu montamos quatro ou cinco faixas diferentes, e durante uma das faixas, Janet disse: "Eu espero que ele não goste desta, porque eu quero esta para mim." E sobre outra das músicas, ela disse, "Esta é a que ele vai gostar, eu conheço meu irmão."

Então nós vamos para o Hit Factory, em Nova York. Nós tocamos todas estas faixas, e quando a faixa que acabou sendo "Scream" chegou, ele disse, "Sim, eu gosto disso." Janet disse: "Eu disse que essa seria aquela de que ele ia gostar! Estou tão feliz que ele não gostou da outra faixa." Bem, a outra faixa acabou sendo "Runaway", seu single de "Design of a Decade". Eu realmente achava que esta trilha teria sido um dueto ótimo para eles, mas Michael queria ser realmente agressivo e realmente duro. Ele tinha coisas em sua mente sobre como ele sentia que estava sendo tratado na imprensa. E a trilha de "Scream" era sonoramente perfeita para as letras que ele queria criar.

Quando ele entrou no estúdio, a idéia era que ele iria cantá-la em primeiro lugar e, em seguida, Janet iria entrar e cantar depois dele. Assim, Janet está sentada lá, eu e Terry estamos lá, e Michael entra nele. Antes dele cantar, ele está apenas muito calmo e silencioso: "Você pode ligar meus fones de ouvido um pouquinho?" Então, de repente, a música inicia e ele começa a dançar em torno da sala, batendo todos os movimentos de sua assinatura. E ele está assim, usando uma pulseira ou algo assim enquanto batia palmas - você supostamente não deveria fazer isso quando você está no microfone, mas isso não importava mesmo. Quando acabou, eu juro por Deus, era só silêncio na sala. Ele disse: "Como foi isso?" Nós estávamos como, "Sim, isso soou muito bom." E eu me virei e olhei para Janet e ela me disse: "Eu só vou fazer o meu vocal em Minneapolis." Foi tipo, "Eu não vou fazer o meu vocal direito agora." Obviamente, ele acabou de matar isso, certo? [risos]

Então vamos para Minneapolis com Janet, onde ela faz um ótimo trabalho em seu vocal. Nós o enviamos para Michael, ele diz, "Uau, Janet soa muito bem. Onde ela gravou esse vocal?" Eu disse que foi em Minneapolis. "Estou indo para Minneapolis." Assim, Michael vem à Minneapolis para regravar o seu vocal, e foi um verdadeiro vislumbre da sua natureza competitiva. Não importava mesmo se fosse sua irmã. Foi como: "Não. Eu tenho que refazer tudo. Ela fez a dela, eu tenho que refazer a minha." Foi uma loucura, a sua competitividade, mesmo com sua própria irmã. Mas era uma unidade para a perfeição. E o vocal original que ele fez em Nova York, acabou sendo provavelmente 90 por cento do vocal na canção final.


É bem única a oportunidade que você teve de trabalhar tanto com Prince quanto com Michael Jackson.

Foi grande demais, trabalhar com Prince e trabalhar com Michael, eles eram pólos opostos na forma como eles trabalhavam. Prince entrava no estúdio no início do dia e ele saía com "1999" feito. Michael, a gente levaria um dia apenas no volume das palmas. Quero dizer, literalmente. E nós melhorávamos isso e ele dizia: "Ok, eu vou voltar amanhã e nós vamos ouvi-la novamente." Voltamos no dia seguinte, e ele iria, "Podemos tornar isso melhor só um pouquinho mais? "Sim, podemos tornar isso melhor. "Ok, me faça uma fita." Okay. "Vou voltar amanhã e nós vamos ouvir de novo." Quero dizer, ele era literalmente assim. Mas isso foi, sabe, aprendendo com pessoas como Quincy Jones, pessoas que eram muito meticulosas sobre o que eles faziam.


Como era Michael em um nível pessoal?

Michael se casou com Lisa Marie Presley no momento em que estávamos trabalhando com ele. E me lembro de minha esposa perguntando a Lisa o que a atraiu para Michael. Ela olhou para minha esposa e disse apenas: "Ele é o homem mais gentil que eu já conheci." E eu lembro de ter pensado a mesma coisa depois de trabalhar com ele. Exatamente um cara legal.

Isso me lembra quando estávamos habituados a entrar nessas grandes e longas conversas. E Michael exigiria da minha mente pensar sobre as coisas, sempre curioso sobre tudo. Ele me disse: "Jimmy, como você quer ser lembrado?" Eu perguntei o que ele queria dizer. "Quando as pessoas falarem sobre você depois que você se for, como você quer ser lembrado?" E eu disse: "Quero ser lembrado como um cara legal." Michael diz: "Não, quero dizer, como produtor, quantas canções número um, sabe, qualquer coisa assim." Eu apenas disse: "Michael, essas são as estatísticas. Eu não quero alguém dizendo 'Oh yeah, aquele Jimmy Jam, ele tinha um monte de hits número um.' Eu só quero que eles dizem, 'Jam Jimmy, ele era um cara legal'."

Avanço rápido para cerca de um ano mais tarde. Precisávamos conseguir uma amostra limpa e ele era o único que poderia limpá-la. Acabei por ter de chamá-lo diretamente. Eu disse: "Michael, como vai você?" Ele disse: "Eu estou bem. Eu sei que você queria me perguntar algo, mas antes disso, posso apenas dizer uma coisa?" Eu disse que sim. Ele disse: "Lembra o que você disse sobre como você quer ser lembrado?" Eu disse que sim. "Bem, toda vez que alguém me pergunta sobre você, eu digo apenas, 'Jimmy Jam, ele é o cara mais legal'." E eu disse: "Ótimo! Você entende isso agora, Michael? "E ele disse: "Eu entendo totalmente."

No fim de tudo, para além de todo o talento e todo o material inovador que ele fez, ele era simplesmente um cara legal. Ele foi uma das pessoas mais legais que eu já conheci e trabalhei em toda minha vida.


Fonte: The Morton Report