[ARTIGO] A Inigualável Influência de Michael Jackson

A Inigualável Influência de Michael Jackson

Por Hampton Stevens,

Publicado em 24 de junho de 2010

Traduzido por Femme exclusivamente para o MJ Dreamer. Proibida a reprodução.


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Michael Jackson foi o artista mais influente do século 20. Isso pode parecer chocante aos ouvidos sofisticados. Jackson, afinal, era apenas uma estrela pop. E quanto aos grandes escritores do século, como Fitzgerald e Faulkner? E quanto aos artistas plásticos, como Picasso e Dali, ou mestres do cinema, de Chaplin a Kubrick? Mesmo entre os músicos influentes, Michael realmente importa mais do que os Beatles? E quanto a Louis Armstrong, que inventou o jazz, ou Frank Sinatra, que o reinventou para as pessoas brancas? Ou Elvis Presley, que fez o mesmo com o blues e o gospel, fundando o rock no processo? Michael Jackson é maior do que Elvis? Numa distância muito grande.

Em primeiro lugar, não há dúvida de que os músicos do século 20 tiveram um impacto muito mais cultural do que qualquer outro tipo de artista. Não existe tal coisa, por exemplo, como um pintor do século 20 que seja mais famoso do que um artista como Sinatra. Não há cineastas e estrelas de cinema que tiveram mais influência cultural do que os Beatles, e não há escritores do século 20 que tocaram mais vidas do que Elvis. Considere-se que milhares de seres humanos, de Banguecoque ao Brasil, ganham a vida fingindo ser Elvis Presley. Quando foi a última vez que viu uma boa impressão de Picasso? Mesmo Elvis, entretanto, é ofuscado pela carreira de Jackson.

Primeiro, com a possível exceção de Prince e Sammy Davis Jr., Michael Jackson, simplesmente tinha mais talento cru como performer do que qualquer dos seus pares. Mas o Rei do Pop reina assinando como o artista do século não apenas por causa de seu talento excepcional, mas porque ele foi capaz de embalar o talento de uma forma totalmente nova. Em forma e conteúdo, Jackson simplesmente fez o que ninguém tinha feito antes.

Louis Armstrong, por exemplo, aprendeu música atuando ao vivo e adaptou sua arte para as gravações e no rádio. Sinatra e Elvis foram também basicamente artistas ao vivo que fizeram gravações, em última análise, expandindo as personas do palco para outras mídias pela pura força do carisma. Os Beatles eram um híbrido, uma grande banda ao vivo que se tornou popular através do rádio e da TV, forçados por sua própria fama a se tornarem os primeiros grandes artistas de estúdio do rock.

Jackson, porém, foi algo totalmente diferente. Algo de novo. Obviamente ele fez grandes discos, geralmente com a ajuda de Quincy Jones. A influência musical de Michael Jackson em artistas posteriores é simplesmente inevitável, de seus seguidores imediatos, como Madonna e Bobby Brown, até depois, a estrelas como Usher e Justin Timberlake.

Certamente, Jackson também podia eletrizar uma platéia ao vivo. Sua tela de verdade, porém, foi sempre a tela de vídeo. Acima de tudo, ele foi o primeiro grande animador televisual. De sua infância no Jackson 5, à sua passagem para adulto no especial dos 25 anos da Motown, até a triste última cobertura pelos tablóides, Jackson viveu e morreu na televisão. Ele nasceu em 1958, parte da primeira geração de americanos que nunca conheceu um mundo sem TV. E Jackson não apenas cresce com a TV. Ele cresceu com isso. Estrelato infantil, a grande bênção e maldição de sua vida, levando-o a interiorizar as convenções da mídia e ver seu potencial de uma maneira que nenhum artista antes conseguiu.

O resultado, como exemplificado pelos vídeos de Thriller, Billie Jean e Beat It, foi mais do que apenas grande arte. Foi uma nova forma de arte. Jackson transformou os clips promocionais de reduzido orçamento que empresas faziam para promover um single de sucesso em grande arte, um gênero totalmente novo que combina todas as formas de mídia de massa do século 20: o vídeo de música. Era cinematográfico, mas não um filme. Havia elementos da performance ao vivo, mas não era nada como um show. Uma mistura perfeita de música e dança que não era brega como a Broadway, era na TV, mas totalmente diferente de qualquer coisa as pessoas já tinha visto em uma tela.

A sabedoria convencional muitas vezes repetida - que os vídeos de Jackson fizeram a MTV e assim "mudaram a indústria da música" é apenas meia verdade. Isso é mais como a indústria da música subiu para abarcar o talento de Jackson e encolheu-se novamente sem ele. Vídeos não importavam antes de Michael, e eles deixaram de ser assunto quase no momento cultural exato em que ele parou de produzir um grande trabalho. Seu último clipe relevante, Black or White, era essencialmente do gênero "canto do cisne". Liderados pelo Nirvana e Pearl Jam, a próxima onda de pop stars odiava fazer vídeos, vendo o formato todo e o canal em que eles iam ao ar como ferramentas de rock corporativo.

O maior impacto do vídeo de música não foi na música, mas no vídeo. Ou seja, no cinema e na televisão. A geração que cresceu assistindo a vídeos dos anos 80 começou a fazer filmes e programas de TV nos anos 90, utilizando, da outrora ousada MTV, elementos estilísticos como cortes rápidos, estilo-verdade transportável, narrativa não-linear e pesados ​​efeitos visuais e transformando-os em TV mainstream e filmes convencionais de cinema.

Se Jackson tivesse sido apenas um grande músico, que também inventou o videoclipe, ele ainda não teria importado tanto. Madonna, sua única herdeira digna, era quase tão talentosa em transmitir uma estética na tela. A estética transmitida por Jackson, no entanto, era muito mais poderosa, libertadora e mundialmente ressonante do que a dela. Era mais poderosa do que a transmitida por Elvis e Sinatra, também. Por isso, toda essa coisa de "Mais Influente Artista".

A música popular americana tem estado sempre a desafiar os estereótipos e quebrar barreiras. Ao longo do século, seja no Jazz, Rock ou Hip-Hop, artistas pretos e brancos misturaram estilos, implicitamente, e muitas vezes explicitamente, defendendo a igualdade racial. A música popular sempre desafiou os papéis sexuais também. Os artistas Top 40 especialmente, de Little Richard e a pseudo-feminista Leslie Gore a David Bowie, Madonna e Lady Gaga, empurram o progresso social, dobrando e quebrando regras do gênero.

Jackson era claramente uma figura trágica, e seus traumas de infância bem documentados não ajudam. Mas a sua falha fatal e, simultaneamente, a fonte de seu imenso poder, foi uma verdadeiramente revolucionária visão Romântica. Não Romântica na forma piegas como empresas de cartão de saudação e floristas usam a palavra, mas mais antiga, no sentido Byroniano de alguém que compromete toda a sua vida a perseguir um ideal criativo, desafiando a ordem social e mesmo a lei natural. O ideal romântico de Jackson, aprendido enquanto criança aos pés fundador da Motown, Berry Gordy, era uma visão inspirada na Era de Aquarius da utilização da música pop para a construção da harmonia racial, sexual, geracional e religiosa. Sua torção, porém, foi um assombro.

Ele não só fez a arte do pop promover a ética igualitária, mas literalmente tentou encarná-la. Quando essa visão tornou-se uma obsessão, um padrão de vício do showbiz em cirurgia plástica tornou-se algo infinitamente mais ambicioso e infinitamente mais sombrio. Jackson tentou conscientemente se transformar em uma mistura indeterminada de tipos humanos, numa espécie de eterna arqui-pessoa, misturando preto e branco, masculino e feminino, adulto e infantil. Ele era, entretanto, não uma arqui-pessoa. Ele era uma pessoa normal, apesar de ser extremamente talentoso, e o tempo transforma em pó cada pessoa, não importa quão bem eles cantam. Décadas atirando-se contra essa irrefutável parede de fato devastaram ele, o corpo, depois a alma, e futuramente o destruíram.

Em seu auge criativo, porém, isso quase parecia possível. Michael poderia ser absolutamente tudo o que quisesse, Diana Ross, um dia, e Peter Pan, no próximo. Cada nota alta de tirar o fôlego, cada passo impossível de dança e louca fantasia projetou a mesma mensagem. Não há mais barreiras de raça, sexo, classe social ou idade, ele disse ao seu público. Você também pode ser e fazer o que quiser. Estamos limitados apenas pela nossa capacidade de sonhar. Um artista que pode fazer você acreditar nisso, sentir isso, mesmo que por um momento, surge uma vez na vida. Talvez. Se você tiver sorte.

Conforme os anos passem e a história higienize sua memória, a lenda de Jackson só crescerá. Um dia, além de ser o mais influente artista do século 20, ele pode muito bem derrubar Elvis tornando-se também o mais imitado. Jackson, afinal, só morreu há um ano. Elvis foi embora desde 1977. Outras duas ou três décadas e Michael poderá ter mais sósias de Banguecoque e do Brasil. Vamos só esperar que não exagerem.