Spike Lee diz que o tratamento que a mídia deu a Michael Jackson foi "vergonhoso"

Spike Lee diz que o tratamento que a mídia deu a Michael Jackson foi "vergonhoso"

Por Nick Patch, em 15 de setembro de 2012

Traduzido por Femme, exclusivamente para o MJ Dreamer. Proibida a reprodução.




TORONTO - O novo documentário de Spike Lee, "Bad 25" captura Michael Jackson no momento turbulento antes do elaborado "Bad", de 1987, período em que o notoriamente meticuloso Rei do Pop trabalhou com obsessão febril em tentar superar seu próprio mega sucesso "Thriller", enquanto o tablóides energicamente devoravam os restos de sua vida pessoal.

Mas mesmo depois que "Bad" foi muito bem e alcançou o topo das paradas em todo o mundo, o lançamento do álbum viu a mudança decidida da atenção do pop puro de Jackson para o seu comportamento pessoal aparentemente bizarro (Chimpanzé! Parques de diversões! Ossos do Homem Elefante!).

E para a mídia alimentada pela curiosidade, Lee diz que há abundância de vergonha para todos.

"As pessoas, eles cultivavam o ódio. Eles estavam bebendo o ódio", disse o duas vezes indicado ao Oscar, em uma entrevista em um ostentoso suite hotel no sábado, durante o Toronto International Film Festival, onde o filme exibido.

"Leia as críticas do álbum 'Bad'. Eles escreveram que este era um pedaço de (porcaria) e (eles) não o chamavam pelo nome - 'Wacko Jacko?' Isso é vergonhoso .... Essas pessoas deveriam ter vergonha o que fizeram com ele. "

E embora o filme reverencial de Lee permaneça cuidadosamente focado no trabalho de Jackson, ele também revela muito sobre um homem extremamente reservado, que nunca experimentou a privacidade.

"25 Bad" surgiu na esteira do sucesso titânico do segundo álbum de Michael Jackson como um artista solo adulto, o atordoante mudança de jogo "Thriller" de 1982. O álbum mais vendido de todos os tempos, os números de vendas de "Thriller" são ainda demasiado vistosos para crer - afinal, ele foi disco de platina 29 vezes só nos EUA, enquanto foi duas vezes diamante no Canadá.

Mas Jackson não estava satisfeito com isso. Assim como ele estava determinado a fazer de "Thriller" um sucesso muito maior do que o seu clássico disco "Off the Wall" de 1979, Jackson pensou que poderia igualmente superar o maior sucesso de todos os tempos. Como o filme de Lee revela, Jackson até mesmo rabiscava "100,000,000" em espelhos e notebooks como um lembrete para si mesmo do número de vendas incrivelmente elevado que queria alcançar com "Bad".

É claro, isso produziu uma quantidade quase sem prcedentes de pressão auto-imposta para um artista pop.

Assim, o filme de Lee captura Jackson obcecado não apenas com as 11 faixas que formavam "Bad", mas também com os seus vídeos de música ambiciosos (um dos quais foi dirigido pelo astro do cinema Martin Scorsese), a coreografia da eventual turnê do álbum épico (que incluiu um show diante de 72.000 fãs no Estádio de Wembley em Londres) ou até mesmo partes de detalhes promocionais apenas tangencialmente relacionados com a música de Jackson.

(Como exemplo, um dos momentos mais leves do filme chega na forma de filmagens de arquivo de cenas de Jackson atuando instruções específicas para os animadores de um comercial da California Raisin que estava caracterizando a sua imagem).

Lee diz que Jackson acreditava que ele não podia parar de exigir de si mesmo ou tudo o que ele tinha trabalhado para construir iria se deteriorar.

"Michael não era estúpido", disse Lee, vestido com uma camiseta brilhante de Michael Jackson combinando com tênis personalizados da Nike.

"Ele viu muitas pessoas, artistas negros, que estavam no topo e depois acabaram se quebrando. Ele viu muitos grandes artistas negros que foram limitados a ser apenas artistas negros."

"Michael é sobre quebrar fronteiras. "

Ainda assim, Lee não pode necessariamente se identificar com o olho incansável de Jackson para o detalhe.

"Não há nada de errado em ser um perfeccionista. Agora, eu, eu não vou fazer 80 takes como David Fincher de alguém pegando uma revista. Eu não vou fazer isso!" acrescenta, rindo enquanto ele pega e bate uma revista lifestyle próxima para dar ênfase.

"Mas era seu dinheiro .... Ele colocou o seu dinheiro em seu trabalho."

E Lee se identifica com Jackson de outras maneiras.

O cineasta lendário por trás de "Faça a Coisa Certa" e "Malcolm X" nasceu em 1957, um ano antes de Jackson.

Ele recorda vividamente de ver Jackson como o jovem fenômeno predominantemente talentoso encabeçando o Jackson 5, quando pela primeira vez dançou no palco em "The Ed Sullivan Show". Anos mais tarde, Lee era um estudante de cinema- tão encantado com os clipes de "Thriller", "Billie Jean" e, sim, "Bad", que aspirava a dirigir tais clipes ele mesmo.

Então, quando Jackson morreu no verão de 2009 após uma parada cardíaca (o seu médico, Conrad Murray, foi posteriormente condenado por homicídio involuntário), Lee ficou devastado.

"Eu fiquei confuso por meses sobre isso", disse aos 55 anos. "Eu cresci com Michael. Eu sou um ano mais velho do que ele. Quando eu tinha 10 anos, ele tinha nove anos. Então, eu não só o conhecia, mas eu o vi crescer."

Junto com o filme de Lee, o 25º aniversário de "Bad" está sendo comemorado com um novo e vistoso relançamento de luxo na terça-feira.

O conjunto de dois discos novos inclui uma versão remasterizada do álbum original, além de num pacote de dignos lados-B que antes foram cortados de sua concisa lista de faixas. (Com honestidade característica, Lee rejeita uma parte do novo material do segundo disco, contorcendo o seu rosto em uma careta quando ele adverte: "Esqueça os remixes.")

Lee não acha que há espaço para o debate sobre a forma como o álbum - que contou com hits como a faixa título, "Man in the Mirror", "The Way You Make Me Feel" e "Smooth Criminal" - veste a sua idade.

"Olhe para as paradas da Billboard quando 'Bad' foi lançado há 25 anos, e depois ouça essas músicas, e veja se elas ainda soam datadas ou contemporâneas", disse Lee, cujo filme irá ao ar pela ABC em 22 de novembro, no Canadá.

"'Bad' ainda se sustenta. Essas outras canções que estavam na lista de Top 10 há 25 anos? Quem eram eles? Thin Lizzy? Ainda estamos falando sobre essas pessoas?" , pergunta ele, incrédulo. (Na verdade, o Top 10 da Billboard na primeira semana em que "Bad" liderou as paradas incluía o segundo álbum de Whitney Houston ao lado da trilha sonora de "La Bamba" e álbuns de Whitesnake, Def Leppard e Heart).

"Os grandes nomes vão resistir ao teste do tempo. Isso não é nem mesmo um argumento."

Embora Lee tenha condenado aqueles que ansiavam pela derrocada de Jackson (o filme não cobre as acusações de abuso sexual infantil feitas contra o cantor em 1993), ele admite a algum nível de curiosidade sobre um elemento específico da vida de Jackson: o seu gradual clareamento do tom de pele.

Apesar de que foi posteriormente relatado que a cor da pele de Michael Jackson foi mudando devido à condição de vitiligo e tratamentos para o lúpus, Lee assistiu a mudança com algum interesse.

"Os negros estavam se perguntando sobre (isso) - eu não vou mentir", disse Lee com uma risada, beliscando sua própria pele. "Porque Michael nunca tornou público que ele tinha essa doença. Eu era um deles. Tipo, 'Espere um minuto homem. O que se passa irmão?'"

"Eu não vou mentir. Isso é divulgado. E eu não estou falando em nome de 45 milhões de negros americanos, mas houve discussões sobre a aparência de Michael."

Claro, houve discussões sobre praticamente todos os elementos da vida de Jackson.

Lee teve acesso a um poço profundo de imagens de arquivo sensacionais, que completou com entrevistas originais conduzidas com colaboradores de Jackson, incluindo Scorsese e o diretor Joe Pytka (bem como admiradores como Kanye West, Mariah Carey e Justin Bieber, do Canadá) com os clipes de Michael Jackson em estúdio ou aquecendo em sets de vídeo.

Mas em meio a todas as cenas de Jackson fervorosamente se preocupando com alguns tons aparentemente insignificantes ou líricos, há dados reveladores sobre a maneira estranha ele viveu a sua vida.

Este é um homem que adotou disfarces tortuosos só para se encontrar com seus irmãos para jantar, que todo aparecimento público se transformava em histeria e cujas primeiras memórias de infância eram indissociáveis do showbiz.

"Ele tinha que cantar e dançar para comer desde que ele tinha seis anos de idade", disse Lee simplesmente.

Em um momento do filme, um confidente de Jackson com lágrimas nos olhos relata uma conversa que compartilharam em que o cantor desejou ser uma mosca na parede em uma festa, para ver o que as pessoas normais falavam.

E uma das faixas bônus em "Bad 25" é o nó, o claustrofóbico "Price of Fame," (Preço da Fama), em que Jackson lamenta o custo de lidar com as demandas de um público enorme que está cegamente obcecado por ele.

Lee não pensa muito quando perguntado que custo era esse.

"Olha, ele não está aqui. Ele não está aqui. Não nesta forma física", ele responde.

"Você conseguir ser a pessoa mais conhecida do planeta, há um preço para isso .... Você poderia dizer que ele pagou com sua vida, realmente."


Fonte: The Canadian Press